Retorno à Atividade Profissional Após Lesão Medular Estaremos a “Investir no Retrocesso”?
DOI:
https://doi.org/10.25759/spmfr.462Palavras-chave:
Emprego, Lesões Medulares, Reabilitação ProfissionalResumo
Introdução: O retorno à atividade profissional após a ocorrência de lesão medular apresenta benefícios de saúde bem documentados. Apesar de tudo, a taxa de empregabilidade tem vindo a reduzir progressivamente ao longo das últimas décadas. O nosso objetivo foi identificar o impacto da gravidade da lesão, da independência funcional, do nível de escolaridade e do tempo de evolução da lesão na reintegração profissional dos doentes com lesão medular.Métodos: Foi conduzida uma entrevista telefónica a uma população de doentes com diagnóstico de lesão medular internados em centro de reabilitação durante o ano de 2015. Cinquenta um doentes aceitaram participar, correspondendo a indivíduos com idades entre os 15 e os 66 anos, com lesões ocorridas entre 1976 e 2015 e profissionalmente ativos previamente à lesão. Foram questionados acerca do nível de escolaridade, emprego desempenhado à data da entrevista, necessidade de mudança de empregador ou readaptação do posto de trabalho e período de tempo até ao retorno profissional. Foi recolhida informação clínica dos relatórios de alta sobre a etiologia da lesão, classificação (American Spinal Injury Association Impairment Scale) e Medida de Independência Funcional.
Resultados: Cerca de metade dos doentes (n=26; 51%) voltou a trabalhar após a lesão. Verificou-se que os indivíduos que retomam a atividade profissional apresentam um nível de escolaridade superior (p=0,02). Manter o mesmo empregador também é um fator facilitador, permitindo um retorno mais célere (p=0,002). Por outro lado, os indivíduos que não regressam ao trabalho não apresentam lesões neurologicamente mais graves (p=0,21) nem níveis inferiores de independência funcional (p=0,13), relativamente aos que se mantêm profissionalmente ativos. Também quem vive com a lesão há mais tempo não apresenta maiores índices de retorno à atividade profissional (p=0,36).
Conclusão: Apesar do desenvolvimento progressivo dos cuidados multidisciplinares prestados na reabilitação do doente com lesão medular, o retorno à atividade profissional é um processo complexo e mal definido. O seu sucesso não parece ser inequivocamente determinado pelo impacto da disfunção motora, sensitiva, autonómica e psicossocial. Assim, criam-se expetativas na reabilitação vocacional individualizada e potenciada pela implementação de medidas que facilitem a reintegração no mercado de trabalho.
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