Alterações na Deglutição após Entubação Orotraqueal Prolongada: Prevalência e Evolução
DOI:
https://doi.org/10.25759/spmfr.303Palavras-chave:
Entubação Orotraqueal, Perturbações da Deglutição/reabilitação, Perturbações da Deglutição/ tratamentoResumo
Introdução: A entubação orotraqueal prolongada pode induzir disfagia, com risco de desidratação, desnutrição, pneumonia de aspiração e morte. Neste sentido realizou-se um estudo de casos para documentar a prevalência de disfagia pós-entubação orotraqueal prolongada e importância do diagnóstico precoce na evicção de complicações.
Material e Métodos: Durante 12 meses, entre Setembro de 2016 e Agosto de 2017, doentes submetidos a entubação orotraqueal prolongada foram avaliados, com o protocolo “STOP Dysphagia”, entre as 24-72 horas e 6-8 semanas pós-extubação. Registou-se o género, idade, comorbilidades, motivo de admissão, índices de gravidade às 24 horas APACHE-II e SAPS-II, tempo de entubação orotraqueal prolongada, grau de disfagia e suas complicações. Excluíram-se doentes com patologia envolvendo a deglutição, impedidos de usar a via oral para alimentação ou não colaborantes.
Resultados: Foram avaliados 50 doentes, entre os 20-83 anos. O tempo médio de entubação orotraqueal prolongada foi de 173 horas e até à avaliação foi de 43 horas. Destes, 21 (42%) não tinham disfagia, 15 (30%) necessitavam de consistência néctar, 5 (10%) de mel, 7 (14%) de pudim e 2 (4%) de sonda nasogástrica. Verificou-se diferença estatisticamente significativa entre a presença de disfagia e idade (p=0,006) e índices de gravidade (APACHE-II p=0,016; SAPS-II p=0,014) e uma correlação moderada entre o grau de disfagia e idade (p=0,427 (p=0,002)), APACHE-II (p=0,458 (p=0,001)) e SAPS-II (p=0,428 (p=0,002)). Não houve relação estatisticamente significativa com o tempo de entubação orotraqueal prolongada (p=0,385). Dos 41 doentes reavaliados às 6-8 semanas, apenas um mantinha disfagia.
Discussão: A disfagia pós-entubação orotraqueal prolongada é uma complicação frequente, cujo diagnóstico precoce permite a tomada de cuidados adequados na prevenção de complicações e com bom prognóstico a curto prazo com tendência à resolução.
Conclusão: A disfagia pós-entubação orotraqueal prolongada deve ser excluída antes do início da alimentação per os de forma a antever e evitar complicações.
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