Preditores da capacidade funcional em doentes coronários
DOI :
https://doi.org/10.25759/spmfr.91Résumé
Introdução: A capacidade funcional, após evento coronário agudo, é um importante factor de prognóstico vital e funcional. Identificar os factores que a determinam, no contexto de programas de reabilitação cardíaca (PRC), irá possibilitar a adopção e implementação de novos modelos e estratégias de intervenção com vista a maximizar a recuperação funcional obtida e reduzir o grau de incapacidade subsequente. O objectivo deste estudo foi estabelecer os preditores da capacidade funcional numa população de doentes coronários integrados num programa de reabilitação cardíaca de Fase II.
Material e Métodos: Análise prospectiva de doentes que completaram programa de reabilitação cardíaca (Fase II) após síndrome coronário agudo recrutados entre Setembro de 2008 e Novembro de 2011. Foi recolhida informação sobre parâmetros sócio-demográficos, clínicos, antropométricos, laboratoriais, ecocardiográficos, funcionais e aplicados questionários para caracterização psicossocial (medidos pela Hospital Anxiety And Depression Scale; depressão/ansiedade se subscores ≥ 8) e da qualidade de vida (Short Form 36 v2). Foi realizada uma análise de regressão linear multivariada, ajustada para a duração da prova de esforço basal, para identificação dos preditores da capacidade funcional no final do PRC, medida pela duração da prova de esforço final.
Resultados: Dos 276 doentes avaliados, 97(35,1%) foram excluídos por ausência de dados. Dos 179(54,2%) casos restantes, 160(89,4%) eram homens, com idade [média(DP):53,5(9,8)] anos e nível de escolaridade de [P50(P25-75):6(4-12)] anos. Desta amostra, 30(16,8%) eram diabéticos; 32(17,9%) tinham história prévia de doença coronária; 45(30%) eram deprimidos, apresentando uma percepção de capacidade física algo diminuída com SF 36 v2-componente físico sumário de 46,6(7,7). Na análise multivariada foram identificados como preditores positivos da capacidade funcional, o sexo masculino (p=0,008; β=0,12), o nível de escolaridade (p=0,007; β=0,144) e a percepção da capacidade física (p=0,024; β=0,127); sendo a diabetes mellitus (p=0,005; β= -0,147), a história prévia de doença coronária (p= 0,019; β= -0,123) e a depressão (p=0,05; β= -0,102) preditores negativos.
Conclusão: Os determinantes da progressão da capacidade funcional são multifactoriais envolvendo factores clínicos, psico-emocionais e sócio-culturais. Estes achados reforçam a necessidade de uma intervenção multidimensional no âmbito dos PRC afastando-nos do conceito restritivo de um simples programa de recondicionamento ao esforço para uma perspectiva mais holística e integral de reabilitação.
Palavras-chave: Doença Coronária; Reabilitação Cardíaca; Capacidade Funcional
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