Avaliação Subjectiva da Percepção de Esforço em Programas de Reabilitação Cardíaca: com que Podemos Contar para Prever a Tolerância ao Esforço?

Joana Macedo, Afonso Rocha, Anabela Sofia Correia, Marco Maia, Vítor Araújo, Júlia Maciel, Fernando Parada

Resumo


Introdução: A Percepção do Esforço (PE) segundo a Classificação de Borg é um método simples de monitorização da intensidade do exercício. Contudo, é baseado na sensação subjectiva de esforço e fadiga durante o exercício, e como tal apresenta grande variabilidade inter e intra-individual.

Objectivo: Avaliar os determinantes da tolerância ao esforço no início de um programa de reabilitação cardíaca (PRC) em doentes coronários.

Métodos: Doentes integrados em PRC na sequência de síndrome coronário agudo, recrutados entre Setembro de 2008 e Outubro de 2010. O perfil psicossocial na admissão foi avaliado através da aplicação da “Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS)” e do componente mental sumário da escala “Medical Outcomes Study Short Form – 36 (SF-36)”. A depressão clínica foi definida por um score HADS-depressão≥8 e a ansiedade por um score HADS- ansiedade≥8. A capacidade funcional foi avaliada através da aplicação dos componentes físicos da escala SF-36 e dos equivalentes metabólicos (METS) obtidos na prova de esforço basal. Para estimarmos a PE indexada ao nível de exercício no início do PRC utilizamos o peak exercise perception score (PEPS), que equivale à razão entre a PE na escala de Borg e a intensidade do exercício estimada em METS.

Resultados: Foram analisados 175 doentes, 160 (91,4%) eram do sexo masculino, com idade média [média (DP): 53 (9) anos] e baixo nível de escolaridade [P50 (P25-P75): 6(4-11) anos]. Após o evento coronário agudo, 144 (82,3%) doentes foram tratados com revascularização coronária percutânea, 19 (10,9%) por cirurgia de revascularização coronária e 12 (6,9%) foram submetidos apenas a tratamento médico. A capacidade funcional foi, no componente físico sumário da SF-36, de 46,2 (8,1); e na prova de esforço basal 10,0 (2,0) METS. Nas sessões iniciais o PEPS aumentou 2,27 (0,6) na PE por cada aumento de 1 METS na intensidade do exercício. As determinantes univariadas da percepção do exercício foram o sexo (b=-0,23; p=0,003), a escolaridade (b=-0,32; p<0,001), volume máximo ventilado (VMV) (b=-0,29 por cada 10% de aumento no VMV; p<0,001), capacidade funcional na admissão [componentes físicas do SF-36 (b=-0,34; p<0,001), MET máximo durante a prova de esforço (b=-0,32; p<0,001)] e o perfil psicossocial na admissão [HADS≥8 (b=0,18; p=0,02), componente mental sumário do SF-36 (b=-0,20; p=0,009)]. Da análise multivariada, ajustada para a idade e para o sexo, verificou-se que a escolaridade (b=-0,24; p=0,001), o VMV (b=-0,19 por cada 10% de aumento no VMV; p=0,008), os componentes físicos do SF-36 (b=-0,19; p=0,011) e os METS na prova de esforço (b=-0,20; p=0,009), constituem variáveis preditoras.

Conclusão: A PE é multifactorial, dependendo de uma interacção complexa entre as capacidades físicas e os aspectos psicossociais. A identificação dos seus principais determinantes poderá auxiliar na optimização e melhor individualização das intervenções nos programas de recondicionamento ao esforço, resultando num melhor recuperação funcional, participação social, reinserção profissional e qualidade de vida.

Palavras-chave: Doença Coronária, Reabilitação Cardíaca, Percepção de Esforço


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DOI: http://dx.doi.org/10.25759/spmfr.12

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Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação